Aquele momento em que tudo deveria seguir rumo à caducidade instantânea.
Aquele momento em que o movimento brusco e direcionado da canela representaria
a melhor forma de ilustração gestual do seu ser. Aquele momento em que tudo
poderia virar ruínas, o playground definitivo para o seu castelo de ódio, raiva
e tudo mais que seu baldinho pudesse comportar. Entre o leve piscar dos olhos,
a imagem se cristaliza: a gravidade transformada parece apenas agitar seus
braços e brandir aos ventos – “foda-se essa merda toda”; e convenhamos, se a
vemos dizer isso, quem é você para contestar? Mas nada é como nosso tilintar de
pálpebras insiste em criar. Aquele momento fica lá, dez, vinte, cinquenta,
setenta anos, diariamente, vindo à sua visita. Daquelas visitas que chegam sem
avisar, sem comes nem bebes, sem ajuda para lavar os pratos após a execução
sumária do prato forçadamente compartilhado. Chega, abre a geladeira, deixa a
torneira aberta e ainda deixa o gato fugir. Mas quem é você para questionar, é
o que você pensa, questionando quem deveria questionar. As leis estão nas ruas,
e também em quem se protege delas. As leis estão nas relações humanas, e também
regem os passos mais gloriosos da desumanidade. As leis estão na natureza, e também
na natureza do que é artificial. Mesmo que ricocheteasse contra os dogmas
impostos pelas leis universais, ou mesmo pelas textuais, o terceiro “mas” viria
no agir. Por quê? Pra que? Pelo que? As
respostas sempre estiveram lá. Muito antes do colapso. Do Novo Estado. Dos
Códigos de Convivência. Dizem que os viventes do ciclo anterior até tinham uma
expressão para este maldito flashback pandimensional de vazio existencial. Mas
essas expressões sumiram, foram soterradas pelos códigos escritos em sangue e
letras de forma por aqueles únicos que podiam pronunciá-las. Não sei se sou
apenas eu, mas a herança genética dessas expressões mortas ainda me amaldiçoa. Não
deveria. Penso enquanto orquestro meus membros no bailar da máquina, porque o
automatismo da carne nos permite viajar. Creio que a ideia primordial não fosse
exatamente esta, afinal, dê mole e logo estará com o crânio em uma moderna arapuca
humana da melhor sofisticação. Dobram suas dívidas. Seus turnos. E ainda te mandam
para a ala 23, não terá viagem astral que te tire de lá por 260 horas. Mas
estou bem, este movimento fecha a décima quinta hora e apenas mais uma e o dia
estará encerrado. Pensando melhor, deixemos os antigos mundanos desconstruírem
suas quarentenas. Deixemos a gravidade seguir na linha da sua lei. Deixemos
aqueles centímetros estranhos passarem batidos como mesquinharia. Está tudo
bem. O glorioso quis assim e o novo Estado apenas cumpre seu dever. Quem sou
eu? O que são 16 horas, se ainda me restam todas as 8? Pobres eram aqueles
antes do colapso. Soltos. Sem alguém para guiar seus passos. Hora de parar de pensar e orquestrar os
últimos circuitos, hoje a previsão do pH é 5, não perco essa chuva por nada!
Como não ser feliz assim? Este sim será meu questionamento.
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