20100215

Sanpaku.

Um espelho me cochichou algo sobre uma maldição. Não a vejo como algo que cresça com nossa essência, algo que brote do espirito ou seja um tapa formidável do karma e estale com cinco dedos abertos na força das ações de mundos passados. Vejo-a como um estado de espírito e sua natureza amplamente mutável e imprevisível. A mesma responsável por hoje você ser Charles Manson e Abraham Lincoln em intervalo de poucos minutos. Agora você está predestinado a ser o caçador, depois a ser a vítima. Hoje fui um pouco dos dois, amanhã ainda não sei, mas talvez o branco dos olhos ainda possa estar querendo me dizer algo. Não fecho meu dia como beserker insano que possa ter sido mais cedo, me sinto a beira do grande impacto. Pronto para o impacto. Posso ser Kennedy, Lennon, Monroe, Presley, Gandhi ou McCartney agora, mas em um momento único, e até curioso da vida, pela primeira vez vejo alguém que conheço pessoalmente (em carne, ossos e bate-papo) ser morto pelo cinema globalizado. Morto, mas devidamente vingado, como todo amigo naturalmente faria, na tela do cinema ou na tela da vida real. De certa forma, fui aquilo que pensei ser e o impacto aconteceu. O impacto ecoou. Mas não me atingiu (fisicamente). Talvez seja um aviso para que eu feche logo esses olhos e todos esses brancos sumam. E ressurja um amanhã sem fragmentos de maldição alguma, apenas com a lembrança do desfecho de um monólogo de estrada em uma tarde de carnaval que repetia e encerrava qualquer assunto ainda vivo com: "Olha lá! Um tucano!" - como eu queria partilhar esse momento com mais pessoas.


Um comentário:

Unknown disse...

Achei legal essa abstração. Vi seu blog na comunidade Cyberpunk is now :) ali esse texto ouvindo a música que vc postou acima... se sua ficção tiver mantiver a energia dela, certamente vai ficar mto boa!