20090730

Atchin.

Saúde esgoelou um homem ao meu lado, e saiu correndo como o velocista que jamais pensou em ser. Para o bem de sua saúde, espero que da próxima vez olhe para os dois lados antes de atravessar a via... de qualquer forma, obrigado!

20090728

Platyhelminthes.

Pelo barranco úmido descia ele. Não era bonito, não era forte, não era inteligente, mas podia muito bem se adaptar as condições impostas sadicamente por Gaia. Era chato, um platelminto qualquer. Se era vesgo como as simpáticas planárias dos livros de colégio, eu não sei. Mas simples, simples como é e continuará sendo, o nobre verme roubou-nos longos minutos de apreciação, descendo harmoniosamente um barranco senil qualquer, numa tarde qualquer de um dia qualquer, como fosse um deus dançando nas encostas jovens do Everest.

20090724

Bop.

Certo dia, um monge me disse algo mais ou menos assim: panannantannnn panannantannnn parantummmtannn tantan psit psit psit panannantannnn panannantannnn parantummmtannn tantan psh psh psh tiiiitiri tiiiiitiri tiiiiiiiitiri psssssssssssshhhh poroobonnpo poroobonnpo paaaaaaaaaaaa tiiiitiri tiiiitiri paaaaa paaaa paaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa panparanpo tantatantorontannntumm pshhhhhhhh tiiiitiri tiiiitiri tiiitirii pshhhhhhhhh tuturummmmmm pommmm pommm pommmmmm tiiitiri tiiiitiriiii bommmmm bop pummmmdummmm tiiiitiriiiii pommmm pshhhhh tatararrrrrrrrurrrrrrrr tatatatatatataatatatatatatrarrrrrrrrrrrrrrtummmmm panannantannnn panannantannnn parantummmtannn nannannnnnnnn trummmm pshhhhhhhh triiiiiiiiiiiiii tatatataaaaa... Para dizer bem a verdade, nem me recordo muito bem, mas era tudo de que eu precisava ouvir.

Astronauta.

Sentado na beira do lago avistei um astronauta. Fazia calor, uns 40º talvez. Ele permanecia trajado com sua roupa espacial e seu capacete intergaláctico. Perguntei se não se sentia mal com o calor e tantas roupas. Ele apenas balançou a cabeça e respirou profundamente, Unhhhhhhhhhhhhhhhhfuuuuuuuuul! A verdade é que ele já não podia respirar nosso ar.

20090722

O Homem de Barro.

Um homem de barro. Um homem de barro qualquer sobe as escadas. Sem objetivo aparente, apenas sobe... um, dois, três, seis, nove, onze, dezessete lances de escada. Parece levemente cansado. Uma gota de suor solitária condensa-se em sua testa enrijecida. Jamais olha para baixo, apenas sobe. Vinte, vinte e um, vinte e três, trinta, trinta e quatro lances de escada. A fadiga precipita-se em sua face plástica. O suor escorre. O homem escorre... um, dois, três, seis, nove, onze, dezessete, vinte, vinte e um, vinte e três, trinta, trinta e cinco lances de escada.

20090720

Let Me Play Among The Stars.

20090704

Monte Castelo.

Flechas, lanças, foices, machados, escarificam minha face esquerda. Um sopro, um sussurro, uma sinfonia, glorificam minha face direita. O azul não é mais tão azul onde as lâminas cortam. O azul é mais azul apenas quando encaro o sussurro que me conforta. Verde e azul nunca se misturam. Em curvas imprevisíveis encontram-se, paralelamente verde e azul, azul e verde. Castelos imponentes, castelos sem reis, porém naturalmente governados. Uma sombra. Duas. Três. O contorno de seus fiéis soldados é seu poder. E lá estão eles no frontline. Intocáveis. Inabaláveis. Incontáveis. O azul pode tornar-se vermelho, laranja, púrpura, negro... os guardiões permanecem em suas posições. Incansáveis, glorificando o império que constituem e defendem. Bípedes, quadrúpedes e criaturas aladas corrompem suas muralhas, mas sem ameaçar sua soberania. Muitos tentam derrubá-la. Poucos conseguem. Não serão os bípedes que definiram sua história, nem mesmo as criaturas mais abomináveis que uma obra de ficção científica poderia criar. Apenas o império azul pode modificar o império verde. Esculpindo seu castelo. Podendo expandir seu exercito ou em segundos determinar o seu extermínio de um batalhão. Bombas centimétricas, milimétricas, que aos detalhes podem fazer do maior de nossos escultores apenas um fragmento insignificante no espaço-tempo da história universal. Forças inofensivas em primeira análise, brutais quando realmente compreendidas. A mais alta das muralhas, o mais forte dos exércitos, o mais extenso dos impérios é cirurgicamente retalhado. Da mesma forma que o impiedoso Sol aquece minha face esquerda. Todos esses castelos, imponentes ruirão. E de seus escombros, de cada gota derramada no battlefield nascerá outro gigante em um lugar qualquer desta imensidão. Nada é perdido. Nada ocorre em vão. Cada gota de chuva atua como um escultor italiano que jamais consegue idealizar sua obra máxima e que faz de sua eternidade sua maldição.Transforma gigantes em anões. Jamais cansa. Jamais pára. Somente a imensidão azul é testemunha. Por mais poderosos que acreditamos ser, nunca veremos essa escultura ser finalizada. Mal veremos fragmentos milimétricos do trabalho do artista. Pois sim, somos nada perante a essas muralhas. Somos vácuo frente à brisa de uma chuva de verão. Sou pequeno. Mas ainda posso tornar-me grande ao glorificar cada detalhe que passou despercebido nesses últimos segundos desde meu nascimento nesse universo eternamente mutável.