20091209

2x2.

Correu na expectativa de que no momento certo, estaria no lugar exato, assumindo a responsabilidade de guiar todas as nossas pretensões para um sucesso pessoal infalível. Mas para sua infelicidade, a sua própria infelicidade o fez lento, confuso, cego e assim, atordoado por seu próprio veneno mental, caiu, como já havia caído inúmeras vezes. Levantou-se tão rápido quanto pôde e viu que algo não estava onde deveria. Sua armadura era ruínas. O insucesso da empreitada desmotivada desestruturou a sua couraça rígida e basta agora apenas olhar, com tristeza, os caminhos que não irá mais cruzar, os inimigos que não irá mais enfrentar e os desafios que não irá mais apostar. Por enquanto.

20091122

Ainda Cansado da Mesmice...

...tentou mudar. Não conseguiu. Tentou mais uma vez. Fracassou. Pela sétima iniciativa, repetindo a idiotice de replicar um erro inúmeras vezes seguidas, obteve o sucesso inesperado.

20091113

Cansado da Mesmice?

Então,
MUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDEMUDE.
Simples assim.

20091109

Leitura de Pensamento.

Mas que merda, mais um dia levantando cedo e ônibus lotado, né? (balança a cabeça) É? Você pode me escutar? Falei alto? Leu meu pensamento? (silêncio) Agora vai fingir que não pode me escutar? (vira de costas e olha pela janela) Vai bancar a idiota, certo? (silêncio) Se é tão boa e pode ler meus pensamentos, prove! (cof, cof) Merda! É assim agora? (coça a testa) Pronto, então leia isso: vá se foder! Lá lá lá lá lá lá lá...

20091018

A Máquina do Futuro.

Era um homem que com todo seu intelecto, dor e suor construiu a máquina da sua vida, e com ela pôde finalmente prever o futuro. Via seus anos voarem através de uma tela de 12' e se deslumbrava com todas as emoções que ainda estavam por vir através de 7 neurosensores milimetricamente grudados em sua cabeça e coluna cervical. Havia uma trama bem definida em RGB por uma explosão de pixels diante de seus olhos, não seguia cronologia e muito menos eram longas as suas manifestações. Mas estavam lá e aquele era o seu futuro. Mesmo assim ele sonhava, especulava e planejava, pois ainda tinha a esperança de que a partir de uma lacuna ainda não exibida nas suas sessões matinais pudesse recolorir sua vida, nem que o custo fosse a destruição definitiva de sua criatura mais preciosa. Decidido: traçou seus desejos, definiu suas prioridades, ambiciou sem medos um destino. E o futuro chegou, e com ele uma certeza: sua criação não era capaz de acompanhar sua evolução natural, sua metamorfose simples e necessária. Falhou em sua missão e foi desligada. Hoje, seu já velho criador pode ser encontrado onde há poucos sonhou estar e onde jamais nenhum pixel jamais pensou em passar perto.

20091010

Duelo.

As vezes, é melhor não esperar muito do adversário. Por mais que esteja se preparando para a dificuldade, para o desafio, para surpresas e mesmo alguns ossos quebrados, no fim, você pode apenas apanhar mais uma frustração para o seu ranking.

20091008

Cordeiro.

Café fraco e muito açúcar. Pupila dilata. Não o suficiente. As pegadas e carcaças do fim de semana ainda sedimentam em minha mente. E lá vão, e devem, ficar cuidadosamente guardadas. Chove lá fora. Não o suficiente. Voraz como um cão raivoso, o café liquidei. Jamais vi um cão pessoalmente. Sempre quis. Dizem terem sido extintos no século passado, eu tento acreditar. Isso não é importante, pelo menos agora. Automatizado estamos. Sinto-me - humano a cada dia, + robótico a cada minuto, - vivo a cada svedberg. Bom sinal não deve ser, mas convenhamos que nossa espécie não é motivo de orgulho há séculos. Talvez a mecanização possa trazer certa liberdade. Liberdade relativa, admito. Nada como caminhar pelos infinitos campos verdes ao som da chuva gelada que explode como milhões de little boys sobre seus ombros. Mas, que campos? Que chuva? Belíssimos campos de cinzas e pólvora são nosso legado, deliciosamente banhados por intermináveis chuvas ácidas que lavam nossa mente, alma e corpo, tão profundamente que podem atingir nossos pulmões, fígado e rins. Liberdade agora é fuga da realidade. Seu corpo, seus ossos, seus músculos, suas articulações trabalham. Sua mente, não. Tenta fugir. Tenta viajar. Tenta se libertar. E talvez consiga. Indo longe o suficiente para rever os campos verdes que nunca viu e sentir a chuva escorrer pelo seu rosto sem ter seu crânio exposto para toda a impiedosa atmosfera que nos rodeia. O bater das máquinas constante e cadenciado some. Silêncio é luxo para os mais nobres e nem eu, mero e descartável mortal com minha mente alada, posso impedir que uma sirene comece a esfaquear meus tímpanos. Mais uma chuva de metal e pólvora se aproxima. A esteira pára. Todos param. Agrupados como cordeiros, seja lá o que isso for, seguem para seus abrigos monocromaticamente coloridos. Isolamento acústico? Isolamento racional. Talvez a música das explosões e o dançar dos estilhaços possa embelezar meu dia e aliviar a dor da minha mente. Tenho vontade. Não são muitos passos. Nem muitas calorias queimadas. Olho fixamente para a porta. Respiro lenta e profundamente. Suspiro. Um passo. Dois. Crio coragem. Não suficiente. Sento e espero o céu desabar mais uma vez.

20091004

Urubu.

Certa vez criei um urubu. Achei lá pelas bandas da aldeia indígena e levei ela para criar em casa. Comia na mão e ficava lá, junto com as galinhas. Um dia enquanto passava uma revoada de urubus, a peguei olhando fixamente, e quando me dei por conta, foi-se. Levantando vôo e indo seguir seu destino. Talvez devesse ter notado que chegou a hora de ter sua própria família.

20090926

Tempo.

O tempo, ou a falta dele, me fez correr frenéticamente até aqui. E agora que já estou aqui, tenho de ficar sentado, apenas acompanhando o tempo caminhar.

20090903

Ancião.

Chovia forte naquele início de noite pré-primavera, um pergunta qualquer estava solta em meio a multidão que se apertava na proteção de lona amarela. Ao lado, um ancião qualquer profetizava: Querem saber um segredo? Não contem a ninguém, mas isso, isso que cai dos céus, é água, é apenas água caindo do céu! E seguiu seu caminho tranquilamente como se navegasse entre as gotas enquanto aquele bando de humanos continuavam aprisionados em suas próprias jaulas.

20090902

Torture-se.

Quando o caos satisfazer suas necessidades psicológicas mais vanguardistas e a exaustão contínua e prolongada tornar-se uma droga insubstituível para cada uma de suas celulas, uma simples noite de descanso, por mais necessária e saudável que seja, será a maior de todas as torturas de sua autoria.

20090828

Correndo.

Acabo de me pegar correndo. Corro, corro o mais rápido possível contra os ponteiros que correm ao meu lado. A energia se propaga para o universo em direção ao lugar onde toda ela se originou em uma bela manhã de outuno. E por mais que eu não perceba, por mais que eu tente sentar e pensar, quando olho para lado tudo é mancha, um borrão policromático em movimento, e lá estou eu correndo novamente. E para que? Para onde? No fim irei parar no mesmo lugar onde tudo começou, mas agora com mais tempo para sentar e pensar...

20090819

Vazio.

O vazio compreende o nada e a completa ausência daquilo que chamamos de matéria. Apesar de aparentemente pobre de espírito, mostra-se nobre abraçando cada centímetro cúbico injustiçado pela inexistência de algo que o complete. E assim segue seu legado, sem mágoa, rancor ou orgulhos tolos, abrindo mão de tudo para contribuir com o equilíbrio eterno dos que anseiam pela matéria. Eleestáaquiagoranãoestámais!

20090806

Osnap.

Não seguia seus instintos. Não fazia suas vontades. Seu rumo era sempre o mais rápido, o mais fácil, o mais simétrico. Pagou com a liberdade pelo acerto garantido, pela comodidade. Pagou com sua racionalidade pela automatização, pela rotina. Era feliz assim, sem questionar, sem criar, sem sonhar, sem errar. Ele fez sua escolha. Eu fiz a minha, e logo que pude, apertei F3 e optei pela chance de não ser perfeito.

20090803

Move.

20090730

Atchin.

Saúde esgoelou um homem ao meu lado, e saiu correndo como o velocista que jamais pensou em ser. Para o bem de sua saúde, espero que da próxima vez olhe para os dois lados antes de atravessar a via... de qualquer forma, obrigado!

20090728

Platyhelminthes.

Pelo barranco úmido descia ele. Não era bonito, não era forte, não era inteligente, mas podia muito bem se adaptar as condições impostas sadicamente por Gaia. Era chato, um platelminto qualquer. Se era vesgo como as simpáticas planárias dos livros de colégio, eu não sei. Mas simples, simples como é e continuará sendo, o nobre verme roubou-nos longos minutos de apreciação, descendo harmoniosamente um barranco senil qualquer, numa tarde qualquer de um dia qualquer, como fosse um deus dançando nas encostas jovens do Everest.

20090724

Bop.

Certo dia, um monge me disse algo mais ou menos assim: panannantannnn panannantannnn parantummmtannn tantan psit psit psit panannantannnn panannantannnn parantummmtannn tantan psh psh psh tiiiitiri tiiiiitiri tiiiiiiiitiri psssssssssssshhhh poroobonnpo poroobonnpo paaaaaaaaaaaa tiiiitiri tiiiitiri paaaaa paaaa paaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa panparanpo tantatantorontannntumm pshhhhhhhh tiiiitiri tiiiitiri tiiitirii pshhhhhhhhh tuturummmmmm pommmm pommm pommmmmm tiiitiri tiiiitiriiii bommmmm bop pummmmdummmm tiiiitiriiiii pommmm pshhhhh tatararrrrrrrrurrrrrrrr tatatatatatataatatatatatatrarrrrrrrrrrrrrrtummmmm panannantannnn panannantannnn parantummmtannn nannannnnnnnn trummmm pshhhhhhhh triiiiiiiiiiiiii tatatataaaaa... Para dizer bem a verdade, nem me recordo muito bem, mas era tudo de que eu precisava ouvir.

Astronauta.

Sentado na beira do lago avistei um astronauta. Fazia calor, uns 40º talvez. Ele permanecia trajado com sua roupa espacial e seu capacete intergaláctico. Perguntei se não se sentia mal com o calor e tantas roupas. Ele apenas balançou a cabeça e respirou profundamente, Unhhhhhhhhhhhhhhhhfuuuuuuuuul! A verdade é que ele já não podia respirar nosso ar.

20090722

O Homem de Barro.

Um homem de barro. Um homem de barro qualquer sobe as escadas. Sem objetivo aparente, apenas sobe... um, dois, três, seis, nove, onze, dezessete lances de escada. Parece levemente cansado. Uma gota de suor solitária condensa-se em sua testa enrijecida. Jamais olha para baixo, apenas sobe. Vinte, vinte e um, vinte e três, trinta, trinta e quatro lances de escada. A fadiga precipita-se em sua face plástica. O suor escorre. O homem escorre... um, dois, três, seis, nove, onze, dezessete, vinte, vinte e um, vinte e três, trinta, trinta e cinco lances de escada.

20090720

Let Me Play Among The Stars.

20090704

Monte Castelo.

Flechas, lanças, foices, machados, escarificam minha face esquerda. Um sopro, um sussurro, uma sinfonia, glorificam minha face direita. O azul não é mais tão azul onde as lâminas cortam. O azul é mais azul apenas quando encaro o sussurro que me conforta. Verde e azul nunca se misturam. Em curvas imprevisíveis encontram-se, paralelamente verde e azul, azul e verde. Castelos imponentes, castelos sem reis, porém naturalmente governados. Uma sombra. Duas. Três. O contorno de seus fiéis soldados é seu poder. E lá estão eles no frontline. Intocáveis. Inabaláveis. Incontáveis. O azul pode tornar-se vermelho, laranja, púrpura, negro... os guardiões permanecem em suas posições. Incansáveis, glorificando o império que constituem e defendem. Bípedes, quadrúpedes e criaturas aladas corrompem suas muralhas, mas sem ameaçar sua soberania. Muitos tentam derrubá-la. Poucos conseguem. Não serão os bípedes que definiram sua história, nem mesmo as criaturas mais abomináveis que uma obra de ficção científica poderia criar. Apenas o império azul pode modificar o império verde. Esculpindo seu castelo. Podendo expandir seu exercito ou em segundos determinar o seu extermínio de um batalhão. Bombas centimétricas, milimétricas, que aos detalhes podem fazer do maior de nossos escultores apenas um fragmento insignificante no espaço-tempo da história universal. Forças inofensivas em primeira análise, brutais quando realmente compreendidas. A mais alta das muralhas, o mais forte dos exércitos, o mais extenso dos impérios é cirurgicamente retalhado. Da mesma forma que o impiedoso Sol aquece minha face esquerda. Todos esses castelos, imponentes ruirão. E de seus escombros, de cada gota derramada no battlefield nascerá outro gigante em um lugar qualquer desta imensidão. Nada é perdido. Nada ocorre em vão. Cada gota de chuva atua como um escultor italiano que jamais consegue idealizar sua obra máxima e que faz de sua eternidade sua maldição.Transforma gigantes em anões. Jamais cansa. Jamais pára. Somente a imensidão azul é testemunha. Por mais poderosos que acreditamos ser, nunca veremos essa escultura ser finalizada. Mal veremos fragmentos milimétricos do trabalho do artista. Pois sim, somos nada perante a essas muralhas. Somos vácuo frente à brisa de uma chuva de verão. Sou pequeno. Mas ainda posso tornar-me grande ao glorificar cada detalhe que passou despercebido nesses últimos segundos desde meu nascimento nesse universo eternamente mutável.