20090704

Monte Castelo.

Flechas, lanças, foices, machados, escarificam minha face esquerda. Um sopro, um sussurro, uma sinfonia, glorificam minha face direita. O azul não é mais tão azul onde as lâminas cortam. O azul é mais azul apenas quando encaro o sussurro que me conforta. Verde e azul nunca se misturam. Em curvas imprevisíveis encontram-se, paralelamente verde e azul, azul e verde. Castelos imponentes, castelos sem reis, porém naturalmente governados. Uma sombra. Duas. Três. O contorno de seus fiéis soldados é seu poder. E lá estão eles no frontline. Intocáveis. Inabaláveis. Incontáveis. O azul pode tornar-se vermelho, laranja, púrpura, negro... os guardiões permanecem em suas posições. Incansáveis, glorificando o império que constituem e defendem. Bípedes, quadrúpedes e criaturas aladas corrompem suas muralhas, mas sem ameaçar sua soberania. Muitos tentam derrubá-la. Poucos conseguem. Não serão os bípedes que definiram sua história, nem mesmo as criaturas mais abomináveis que uma obra de ficção científica poderia criar. Apenas o império azul pode modificar o império verde. Esculpindo seu castelo. Podendo expandir seu exercito ou em segundos determinar o seu extermínio de um batalhão. Bombas centimétricas, milimétricas, que aos detalhes podem fazer do maior de nossos escultores apenas um fragmento insignificante no espaço-tempo da história universal. Forças inofensivas em primeira análise, brutais quando realmente compreendidas. A mais alta das muralhas, o mais forte dos exércitos, o mais extenso dos impérios é cirurgicamente retalhado. Da mesma forma que o impiedoso Sol aquece minha face esquerda. Todos esses castelos, imponentes ruirão. E de seus escombros, de cada gota derramada no battlefield nascerá outro gigante em um lugar qualquer desta imensidão. Nada é perdido. Nada ocorre em vão. Cada gota de chuva atua como um escultor italiano que jamais consegue idealizar sua obra máxima e que faz de sua eternidade sua maldição.Transforma gigantes em anões. Jamais cansa. Jamais pára. Somente a imensidão azul é testemunha. Por mais poderosos que acreditamos ser, nunca veremos essa escultura ser finalizada. Mal veremos fragmentos milimétricos do trabalho do artista. Pois sim, somos nada perante a essas muralhas. Somos vácuo frente à brisa de uma chuva de verão. Sou pequeno. Mas ainda posso tornar-me grande ao glorificar cada detalhe que passou despercebido nesses últimos segundos desde meu nascimento nesse universo eternamente mutável.

Nenhum comentário: