20130116

Inflável.

Era pouco mais de meio-dia, fomos ao shopping naquele esquema "foca direto pro cinema e pega uma boa cadeira", mas logo na entrada tivemos nossa atenção roubada por três bonecos aleatórios de uma yogurteira da vida se preparando para sua épica jornada de animar a criançada. Bonecos daqueles com um cidadão no cockpit, envolto por um mar de ar (nitrogênio + oxigênio + gás carbônico + vapor de água + gases nobres + outros não citados, mas não menos importantes elementos e moléculas químicas) impulsionado por uma ventoinha a bateria, praticamente ao melhor estilo monstro de marshmallow destruindo a metrópole. Eram três, de três cores primárias (no esquema espectral da classificação): azul, verde e amarelo; assim graciosamente ordenados da esquerda para a direita. Bem, nesse momento em que íamos ao cinema, eles estavam se preparando e a ansiedade dos pequenos (e talvez, futuros hipertensos) já era grande, mas os três seguiam inertes, enquanto o sopro da vida, regado a 12V, os preenchia. Na volta do A Vida de Pi,, naquele esquema "foca na saída pra fugirdo ar condicionado e pegar o clima de chuva" nos deparamos com os três reis magos da animação infantil dançando freneticamente, mas sem perder a elegância ou sair algebricamente do seus locais. Logo notamos que não estava tudo bem: o verde, o central, dançava, agitava, mas também murchava lentamente, definhava, se esmilinguia, no sentido não mimercologista da palavra. Não teve jeito, paramos e ficamos hipnotizados pela luta travada: vida versus destino, na forma de uma dança, a última dança naquela tarde chuvosa. Um ar de comoção e tristeza  arrebatou  a todos no recinto, enquanto mais e mais paravam para observar a cena. Mas o verde, não parava, murchava e dançava como alguém que fadado a morrer não se abatia até o seu último suspiro. As próprias crianças perderam o interesse pelo amarelo ou o azul e paradas observavam cada milímetro cúbico de um Dollynho gigante desaparecendo nas suas frentes. Duas ou três 'caras de choro' puderam ser catalogadas facilmente naqueles dois ou três minutos de tensão. Enquanto os outros dois, estes sim representantes das cores primárias do reino cromático, se remexiam sem parar e ter um olhar especial pelo seu semelhante que partia, o Verde diminuía lentamente seus movimentos até uma dança lenta e hipnotizante no balangar dos seus joelhos. Seguiu então seu último suspiro e talvez ali, inerte em meio a indiferença de seus iguais, ele possa ter visto no seu último frame de vida as crianças (materiais e interiores) tristes, abaixando suas cabeças em reverência àquele que partia, seja quem ou o que fosse.

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